A Poesia de Abril na sala de aula

Inserido no âmbito das comemorações dos 40 anos da Revolução do 25 de Abril de 1974, no dia 23 de abril, no início das aulas das 10h:10m e 15h:10m, foi lido (e distribuido um marcador a cada aluno), pelos alunos de filosofia, em todas as turmas, o poema de Jorge de Sena, «Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade», iniciativa conjunta do Clube de Filosofia e do Clube da Oralidade. Foi também distribuido a cada aluno um marcador com poema.


Aqui fica o poema:



«Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade»

 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos

reinaram neste país,

e conta de tantos danos,

de tantos crimes e enganos,

chegava até à raiz.


Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.


Tantos morreram sem ver

o dia do despertar!

Tantos sem poder saber

com que letras escrever,

com que palavras gritar!


Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.


Essa paz de cemitério

toda prisão ou censura,

e o poder feito galdério.

sem limite e sem cautério,

todo embófia e sinecura.


Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.


Esses ricos sem vergonha,

esses pobres sem futuro,

essa emigração medonha,

e a tristeza uma peçonha

envenenando o ar puro.


Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.


Essas guerras de além-mar

gastando as armas e a gente,

esse morrer e matar

sem sinal de se acabar

por politica demente.


Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.


Esse perder-se no mundo

o nome de Portugal,

essa amargura sem fundo,

só miséria sem segundo,

só desespero fatal.


Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.


Quase, quase cinquenta anos

durou esta eternidade,

numa sombra de gusanos

e em negócios de ciganos,

entre mentira e maldade.


Qual a cor da liberdade?

E verde, verde e vermelha.


Saem tanques para a rua,

sai o povo logo atrás:

estala enfim altiva e nua,

com força que não recua,

a verdade mais veraz.


Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

 

Jorge de Sena | abril de 1974

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